domingo, 4 de dezembro de 2011

Contradição Depressiva

  Final de semana, sozinho em casa, seus pais estavam viajando, sua irmã estava com suas amigas em alguma praia do litoral norte, ou em alguma balada da zona sul, acendeu o cigarro no canto da varanda, e repensou um pouco em tudo que havia passado naquela semana.

  Pensou muito em seu trabalho, que amava, e era a única coisa que alegrava ele dentro do curso desagradável de arquitetura que ele fazia, um curso feito por pessoas que se acham mais que as outras, e que não conhece nada da vida, seu sonho mesmo era trabalhar dando aulas de inglês, língua que amava, e que sabia que tinha potencial para ensinar, afinal em 4 meses que sua empregada trabalhava lá ela já tinha aprendido a dizer “muito obrigado...de nada...” em inglês.

  Ligou seu rádio com alguma música bem alta que o levasse para fora daquele momento, não queria pensar, para que não se sentisse mal por não gostar do que fazia, ele até gostou durante um tempo, mas como toda paixão um dia acaba, e o que ele sentia pelo inglês era amor, e amor não morre, essa era a visão que ele tinha de tudo.

  Seu talento para projetos de arquitetura era nato, e nas horas livres sempre estava desenhando alguma coisa que lembrava seus estilos preferidos, mas o enjoava ver aquelas pessoas que não tinham um talento sequer entrarem no curso porque o papai mandou, porque alguém já indicou, ou simplesmente, pra fazer projeto de urbanismo na prefeitura e encostar a bunda. Quanto ao inglês não existia aquilo, quem sabe inglês, se sente feliz por saber outra língua além do português, e aquilo o animava, achava que as pessoas aprenderiam inglês, simplesmente por quererem aprender algo novo.

  E por mais que não quisesse mais pensar na contradição que ele transformava a vida, não conseguia, cada vez pensava mais e mais, e todos os amigos já tinham lhe dado conselhos para que terminasse a faculdade, e depois fizesse o que ele realmente gosta, já estava no final, faltava tão pouco, mas aquele ambiente cheio do pessoal da zona sul, o irritava, não agüentava ouvir uma conversa daquele tipo de pessoa, e por mais que fosse um daqueles, ele não se sentia parte daquilo, ele se sentia criança que ia a primeira vez pra escola, com vontade de dar meia volta e abraçar a mãe.

  Não estava afim de abandonar o curso, pois o iam chamá-lo de fracassado por abandonar alguma coisa simplesmente por ter perdido o tesão naquilo, e seguido no que realmente acreditava que era bom, ensinar inglês, mas sabia que as pessoas o olhariam torto, pois ele fracassou na faculdade.

  Resolveu deixar toda aquela contradição depressiva de lado, vestiu uma blusa de frio, pôs a bermuda e o tênis, e foi embora, mais uma vez sem resolver nada, mas sabendo que odiava o que fazia, e que amava algo totalmente o oposto, mas o que ele ia fazer? Ia pra casa da namorada, filosofar sobre tudo isso, e não concluir nada.

Um comentário:

Natália Albertini disse...

Compartilho completamente do amor pelo inglês. ;)
Fazia tempo que eu não passava aqui, Bi, vou ver se passo mais!

Belas escritas.
Um beijo,
Natá.