sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Choque de Realidade

Ao entrar na loja não sabia bem o que queria, olhava ao seu redor e observavas as pessoas ricas e felizes que ali estavam comprando os melhores produtos que seu dinheiro poderia oferecer, todos bem vestidos e com uma ótima aparência.

Nunca teve dinheiro para comprar todas aquelas coisas, porém nunca quis, o pouco que teve soube aproveitar, sempre soube que seria difícil ter mais do que aquilo, mas nunca se importou, o que tinha era suficiente para manter uma família e isso já o deixava feliz.

Enquanto andava por volta da loja lembrava do doce menino que costumava ser, porém com o tempo a doçura foi se perdendo, tornou-se mais agressivo, diferente, e com isso suas amizades também começaram a almoçar, pessoas estranhas passaram a visitar sua casa, tais pessoas não despertavam a confiança de sua mãe.

Lembrava bem que foram essas amizades que o levaram para o “mal caminho”, para o primeiro cigarro de maconha, a primeira “carreira”, e foram nesses momentos que se descobriu, aprendeu a ser destemido, a viver cada dia como se fosse o último, e com todos esses aprendizados percebeu que o doce menino do qual sua mãe se orgulhava havia morrido, e junto com ele a inocência característica daquele menino.

A droga o deixara no fundo do poço, no seu quarto restava apena sua cama e alguma pilha de roupa jogada pelos cantos, seu pai começara a beber tentando fugir dos problemas causados pelo filho, a mãe vendo tanto a situação do marido quanto a do filho não parava em nenhum momento de chorar, e sua irmã passava o dia todo trabalhando para tentar não se envolver nos problemas de sua família.

E naquele momento, naquele shopping, percebeu que estava sozinho no mundo, o suor misturava-se com as lágrimas que não paravam de cair de seus olhos, queria voltar no tempo, mudar as coisas e seguir um caminho diferente, ser o jogador de futebol que sempre sonhou.

Ninguém ali estava prestando atenção nele, todos pensavam apenas no dinheiro, ou em qual produto daquela loja daria mais status dentro de seu ciclo social. E quando de tanto chorar começou a soluçar, um vendedor rapidamente se aproximou, perguntou o que ele desejava, então ele respirou fundo, engoliu o choro e esbravejando disse:
- TODO MUNDO PRO CHÃO! É UM ASSALTO

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Amizade de gente grande

O frio toma conta da sala, logo na entrada da casa, as pessoas que ali estão também não estão felizes, não são jovens, porém ainda não são velhos, todos já tem experiência suficiente para sabe dizer o que querem, e quando querem, poucos são os que ali não tem experiência.

Na vitrola ainda antiga, toca um disco de uma banda bem antiga, a garrafa de rum empoeirada acabara de ser aberta. Os assuntos são os mais diversos, desde esportes até política, televisão, novelas, fazem parte de seu repertório para a conversa dessa noite. Não há problemas, ninguém é diferente de ninguém, todos são iguais, todos com o passar do tempo perceberam que diferenças não levam a lugar nenhum.

Há juízes, advogados, jornalistas, médicos, publicitários e vagabundos sentados a sala, todos discutindo sobre o assunto proposto, há aqueles que sabem mais e aqueles que sabem menos, porém nenhum é mais ou menos arrogante por conta disso, os publicitários defendendo o computador, a internet e a digitalização de tudo, enquanto juízes e advogados defendendo o uso do papel desde que de forma moderada.

Diretamente do forno a lenha a pizza acabara de sair, todos estavam famintos, estava ali a horas apenas petiscando e bebendo o velho rum, mas mesmo comendo a conversa continuara, adoravam conversar, sempre tinha bastante assuntos.

Um pedaço ali e outro aqui, e a conversa não parava, os empregados não agüentavam mais ouvi-los conversar sem parar, estavam a horas conversando, e em nenhum momento repetiram algum assunto, ou mesmo alguma historia.

O tempo passou, mas em nenhum momento levou a alegria da cara deles, em nenhum momento as obrigações os fizeram passar por cima de suas amizades, em poucos momentos lembraram-se do mundo ali fora, nenhuma “twittada”, nenhuma sms, e o mais importante nenhuma ligação para atrapalhar a conversa.

Com o passar do tempo seus gostos não mudaram, porém a experiência os trouxe coisas novas, as quais acrescentaram a seu acervo intelectual, se não gostaram de alguma coisa, não reclamaram, apenas descartaram de suas vidas, não precisavam de reclamações, gostavam da felicidade, do sorriso e da alegria de viver, isso bastava para momentos como aquele.

Ao fim daquela noite, se abraçaram, esperavam ansiosamente por outro encontro que dessa vez seria na casa de uma outra pessoas, porem do mesmo jeito com o mesmo rum empoeirado, com a mesma pizza, com as mesmas pessoas e o principal com os mesmos assuntos.